Mais compridos, mais largos, mais altos: nos últimos anos, a
construção marítima tem vindo numa única direcção – maior! O perigo desta
tendência é que o risco financeiro em caso de perda cresce à medida que o
tamanho do navio aumenta.
Do ponto de vista de uma seguradora marítima, é uma equação
simples: quanto maior o navio, mais carga transportará e, portanto, maior será
a soma assegurada. O valor de todo o navio, incluindo a carga pode ascender a mil
milhões de euros.
Quando o Hyundai
Fortune pegou fogo em 2006, as chamas foram de tal forma alterosas que a
tripulação foi impotente para tomar quaisquer medidas para combater o incêndio.
Os 27 tripulantes foram resgatados por um navio de guerra holandês no Golfo de Áden.
O Hanjin Pennsylvania
transportava fogos-de-artifício quando um incêndio irrompeu, os petardos e
foguetes explodiram – durante mais de uma semana. Estima-se que se perderam cerca
de 1.300 contentores no incêndio.
O Charlotte Maersk
navegava de Port Klang com destino a Salalah, quando três horas após a partida
membros da tripulação na ponte observaram fumo na parte dianteira do navio. Após
aproximadamente 24 horas de combate ao incêndio pelos membros da tripulação, por
navios de apoio e, até, de um avião de combate a incêndio, o fogo foi
considerado controlado.
Em 2012, declarou-se um incêndio no porão do MSC Flaminia. Houve uma explosão
enquanto a tripulação tentava combater o fogo. Três membros da tripulação faleceram
e outros sofreram queimaduras graves. Só depois que dois rebocadores com
capacidade de combate a incêndio chegaram é que as chamas foram controladas. O
navio transportava 150 contentores com mercadorias perigosas. Após o navio ter
sido rebocado para Wilhelmshaven, cerca de dois meses após o início do
incêndio, foram descobertas brasas activas a bordo.
O equipamento de combate a incêndios disponível a bordo de navios
porta-contentores não se desenvolveu à medida que o tamanho dos navios tem
vindo a crescer, pelo que a indústria de seguros marítimos quer fazer algo sobre
esta matéria.
A União Internacional de Seguros Marítimos (IUMI), um grupo
com sede em Hamburgo, na Alemanha, que trabalha para elevar os padrões no sector
de seguros marítimos, publicou um Livro Branco com sugestões de melhoria de capacidade
de combate a incêndios a bordo de navios porta-contentores.
O objectivo da IUMI é a de ajudar e informar a Organização
Marítima Internacional (OMI), os organismos de classe, construtores navais e
operadores de navios sobre formas de melhorar a segurança da tripulação, bem
como aumentar a protecção dosr navios, carga e ambiente marítimo.
O incêndio do MSC
Flaminia em 2012, no qual morreram três tripulantes, foi "um acidente
chave" que trouxe o problema do fogo em contentores ao topo das
preocupações da IUMI. O navio construído em 2001, de 6.700 TEU’s, ardeu por
mais de cinco semanas no Atlântico Norte com dois rebocadores de salvamento
bombeando entre 10 a 20 toneladas de água por minuto, tentando extinguir o
fogo.
No entanto, “a gota que fez transbordar o copo” e levou a
IUMI a debruçar-se sobre o aumento da segurança contra incêndio em navios
porta-contentores, sobreveio por motivo de dois incêndios, já em 2016, em
navios atracados em portos alemães e que ocorreram durante operações de soldadura.
Um envolveu o Maersk Karachi de 6.700
TEU’s a 13 de Maio, em Bremerhaven, o outro envolvendo o CCNI Arauco de 9.000 TEU’s a 1 de Setembro, em Hamburgo.
No caso do Maersk
Karachi, as operações de soldadura causaram um incêndio que exigiu mais de
100 bombeiros para controlar as chamas. Já o incêndio que deflagrou no CCNI Arauco obrigou à intervenção de 300
bombeiros. O porão do navio foi completamente selado e inundado com CO2, mas sem
êxito. Foi, então, utilizada água para inundar o porão, mas teve de se parar
antes que pudesse causar problemas de estabilidade ao navio. Por último, foi,
então. usada espuma para se conseguir controlar o incêndio. Em meados de Outubro
o navio ainda estava ancorado em Hamburgo, em reparação.
A prevenção de incêndios está no topo da lista de
prioridades de gestão de riscos no sector marítimo. Problemas relacionados com falta
de equipamentos de combate a incêndios, ou deficiência dos mesmos, foram
citados em 10% dos 60 navios detidos nos EUA por razões de segurança no 1º
semestre de 2016.
A manutenção de equipamentos adequados de segurança contra
incêndios é um desafio maior para os navios porta-contentores que para os
navios-tanque, uma vez que o tamanho e a disposição destes últimos não se têm alterado
tão drasticamente. Um sector de transporte marítimo destruído por uma recessão
global e taxas de frete em queda, para além dos custos operacionais, de
manutenção e reparação dos navios continuarem a subir, têm vindo a agravar o
problema.
Enquanto o CO2 pode ser usado para combater um incêndio num
graneleiro, onde o contacto directo do CO2 com a carga é possível, isso não sucede
com os contentores, que manterão oxigénio no seu interior, o que torna a luta
contra o incêndio mais desafiante.
Por outro lado, sabemos o que estamos a transportar num graneleiro
ou num petroleiro, mas num porta-contentores existe sempre o risco da carga ter
sido declarada incorrectamente, o que potencia o perigo. Essa incorrecção poderá
alimentar mais o fogo e pôr em perigo a vida da tripulação.
É por isso que as instalações de combate a incêndios
precisam ser melhoradas, tanto acima do convés, como abaixo dele. Instalações
de combate a incêndios actualizadas poderiam proporcionar uma melhor protecção.
Por exemplo, deveria ser possível proteger o resto da carga por refrigeração
activa. No convés, deveriam ser possíveis cortinas de água entre as baias de
contentores, o que poderia evitar a propagação de um incêndio. Deveriam, ainda,
existir monitores, capazes de alcançar qualquer ponto no navio, permanentemente
instalados no convés, que permitissem controlar um incêndio mais rapidamente.
Actualmente, não existem planos para que os sistemas de
extinção de incêndios sejam melhorados. Desde 2014, os regulamentos da
Organização Marítima Internacional (OMI) apenas estipulam monitores portáteis,
que devem ser montados pela tripulação dentro da zona de perigo do incêndio.
Estes pequenos monitores não podem ser controlados remotamente.
Embora possam ser úteis na luta contra um incêndio no
seu início, se ele tiver sido desencadeado por explosão, como no caso dos MSC Flaminia, Hanjin Pennsylvania e Hyundai
Fortune, não será possível usar esses monitores portáteis. E a adaptação
destes pequenos monitores portáteis nem sequer é obrigatória para a frota
existente de navios porta-contentores acima de 5.000 TEU’s. As actuais
instalações de combate a incêndios continuam a ser inadequadas face à capacidade
destes navios. O incêndio, portanto, permanecerá como um risco sempre presente em
alto mar.Artigo original
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