9 de dezembro de 2016

Risco de incêndio aumenta à medida que os navios crescem

Mais compridos, mais largos, mais altos: nos últimos anos, a construção marítima tem vindo numa única direcção – maior! O perigo desta tendência é que o risco financeiro em caso de perda cresce à medida que o tamanho do navio aumenta.
Do ponto de vista de uma seguradora marítima, é uma equação simples: quanto maior o navio, mais carga transportará e, portanto, maior será a soma assegurada. O valor de todo o navio, incluindo a carga pode ascender a mil milhões de euros.
Quando o Hyundai Fortune pegou fogo em 2006, as chamas foram de tal forma alterosas que a tripulação foi impotente para tomar quaisquer medidas para combater o incêndio. Os 27 tripulantes foram resgatados por um navio de guerra holandês no Golfo de Áden.
O Hanjin Pennsylvania transportava fogos-de-artifício quando um incêndio irrompeu, os petardos e foguetes explodiram – durante mais de uma semana. Estima-se que se perderam cerca de 1.300 contentores no incêndio.
O Charlotte Maersk navegava de Port Klang com destino a Salalah, quando três horas após a partida membros da tripulação na ponte observaram fumo na parte dianteira do navio. Após aproximadamente 24 horas de combate ao incêndio pelos membros da tripulação, por navios de apoio e, até, de um avião de combate a incêndio, o fogo foi considerado controlado.
Em 2012, declarou-se um incêndio no porão do MSC Flaminia. Houve uma explosão enquanto a tripulação tentava combater o fogo. Três membros da tripulação faleceram e outros sofreram queimaduras graves. Só depois que dois rebocadores com capacidade de combate a incêndio chegaram é que as chamas foram controladas. O navio transportava 150 contentores com mercadorias perigosas. Após o navio ter sido rebocado para Wilhelmshaven, cerca de dois meses após o início do incêndio, foram descobertas brasas activas a bordo.
O equipamento de combate a incêndios disponível a bordo de navios porta-contentores não se desenvolveu à medida que o tamanho dos navios tem vindo a crescer, pelo que a indústria de seguros marítimos quer fazer algo sobre esta matéria.
A União Internacional de Seguros Marítimos (IUMI), um grupo com sede em Hamburgo, na Alemanha, que trabalha para elevar os padrões no sector de seguros marítimos, publicou um Livro Branco com sugestões de melhoria de capacidade de combate a incêndios a bordo de navios porta-contentores.
O objectivo da IUMI é a de ajudar e informar a Organização Marítima Internacional (OMI), os organismos de classe, construtores navais e operadores de navios sobre formas de melhorar a segurança da tripulação, bem como aumentar a protecção dosr navios, carga e ambiente marítimo.
O incêndio do MSC Flaminia em 2012, no qual morreram três tripulantes, foi "um acidente chave" que trouxe o problema do fogo em contentores ao topo das preocupações da IUMI. O navio construído em 2001, de 6.700 TEU’s, ardeu por mais de cinco semanas no Atlântico Norte com dois rebocadores de salvamento bombeando entre 10 a 20 toneladas de água por minuto, tentando extinguir o fogo.
No entanto, “a gota que fez transbordar o copo” e levou a IUMI a debruçar-se sobre o aumento da segurança contra incêndio em navios porta-contentores, sobreveio por motivo de dois incêndios, já em 2016, em navios atracados em portos alemães e que ocorreram durante operações de soldadura. Um envolveu o Maersk Karachi de 6.700 TEU’s a 13 de Maio, em Bremerhaven, o outro envolvendo o CCNI Arauco de 9.000 TEU’s a 1 de Setembro, em Hamburgo.
No caso do Maersk Karachi, as operações de soldadura causaram um incêndio que exigiu mais de 100 bombeiros para controlar as chamas. Já o incêndio que deflagrou no CCNI Arauco obrigou à intervenção de 300 bombeiros. O porão do navio foi completamente selado e inundado com CO2, mas sem êxito. Foi, então, utilizada água para inundar o porão, mas teve de se parar antes que pudesse causar problemas de estabilidade ao navio. Por último, foi, então. usada espuma para se conseguir controlar o incêndio. Em meados de Outubro o navio ainda estava ancorado em Hamburgo, em reparação.
A prevenção de incêndios está no topo da lista de prioridades de gestão de riscos no sector marítimo. Problemas relacionados com falta de equipamentos de combate a incêndios, ou deficiência dos mesmos, foram citados em 10% dos 60 navios detidos nos EUA por razões de segurança no 1º semestre de 2016.
A manutenção de equipamentos adequados de segurança contra incêndios é um desafio maior para os navios porta-contentores que para os navios-tanque, uma vez que o tamanho e a disposição destes últimos não se têm alterado tão drasticamente. Um sector de transporte marítimo destruído por uma recessão global e taxas de frete em queda, para além dos custos operacionais, de manutenção e reparação dos navios continuarem a subir, têm vindo a agravar o problema.
Enquanto o CO2 pode ser usado para combater um incêndio num graneleiro, onde o contacto directo do CO2 com a carga é possível, isso não sucede com os contentores, que manterão oxigénio no seu interior, o que torna a luta contra o incêndio mais desafiante.
Por outro lado, sabemos o que estamos a transportar num graneleiro ou num petroleiro, mas num porta-contentores existe sempre o risco da carga ter sido declarada incorrectamente, o que potencia o perigo. Essa incorrecção poderá alimentar mais o fogo e pôr em perigo a vida da tripulação.
É por isso que as instalações de combate a incêndios precisam ser melhoradas, tanto acima do convés, como abaixo dele. Instalações de combate a incêndios actualizadas poderiam proporcionar uma melhor protecção. Por exemplo, deveria ser possível proteger o resto da carga por refrigeração activa. No convés, deveriam ser possíveis cortinas de água entre as baias de contentores, o que poderia evitar a propagação de um incêndio. Deveriam, ainda, existir monitores, capazes de alcançar qualquer ponto no navio, permanentemente instalados no convés, que permitissem controlar um incêndio mais rapidamente.
Actualmente, não existem planos para que os sistemas de extinção de incêndios sejam melhorados. Desde 2014, os regulamentos da Organização Marítima Internacional (OMI) apenas estipulam monitores portáteis, que devem ser montados pela tripulação dentro da zona de perigo do incêndio. Estes pequenos monitores não podem ser controlados remotamente.
Embora possam ser úteis na luta contra um incêndio no seu início, se ele tiver sido desencadeado por explosão, como no caso dos MSC Flaminia, Hanjin Pennsylvania e Hyundai Fortune, não será possível usar esses monitores portáteis. E a adaptação destes pequenos monitores portáteis nem sequer é obrigatória para a frota existente de navios porta-contentores acima de 5.000 TEU’s. As actuais instalações de combate a incêndios continuam a ser inadequadas face à capacidade destes navios. O incêndio, portanto, permanecerá como um risco sempre presente em alto mar.
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